Mês: Agosto 2010

Impressões fotográficas: Alfred Eisenstaedt

'American Ballet' por Alfred Eisenstaedt (1938)

Comprou a primeira máquina com o dinheiro que ganhava a vender cintos e botões. Fotografou Joseph Goebbles, Hitler e Mussolini. Marlene Dietrich, George Bernard Shaw, Marilyn Monroe, Ernest Hemingway, JFK , Sophia Loren. Trabalhou para revistas tão famosas como a Harper’s Bazar a Vogue ou a Life. Alfred Eisenstaedt (1898 – 1995) nasceu na Polónia, mas em 1935 emigrou para os Estados Unidos. A primeira fotorreportagem que fez foi em 1929 com o nobel da literatura Thomas Mann: um presságio de uma carreira brilhante.

A sua fotografia mais famosa é a V-J day, onde um marinheiro beija apaixonadamente uma rapariga em Times Square, durante a parada de vitória no final da II Guerra Mundial. Eu gosto, muito até. Mas ainda consigo gostar mais de bailarinas.

Santa Helena abre as portas ao mundo

O território é um dos locais mais isolados do globo e integra a lista de 14 dependências governadas pela coroa britânica. Aeroporto vai atrair turistas e diminuir a dependência económica de uma ilha que custa 20 milhões de libras anuais ao Governo de Londres

Na era do pós-modernismo, dos transportes de alta velocidade e da proliferação estonteante das redes de comunicação, há quem possa, sem grande dificuldade, tomar o pequeno-almoço em Lisboa, almoçar em Londres e terminar o dia a jantar em Nova Iorque. Mas, na ilha de Santa Helena, no Sudoeste do Atlântico, há quatro mil pessoas que nem sonham com tal liberdade de movimentação pelo globo.

Foi nesta ilha que Napoleão Bonaparte esteve exilado entre 1815 e 1821 (o ano da sua morte), por se tratar de um local de onde seria impossível fugir. Uma realidade que vai agora ser alterada.

Confinados a um território de 122 quilómetros quadrados, os habitantes desta dependência da coroa britânica estão rodeados por água num raio de mil quilómetros, sendo a ilha da Ascensão o território mais próximo.

Para se avistar um continente é preciso viajar mais de dois mil quilómetros de barco. Num barco apenas. O Royal Mail Ship é o único meio de transporte que liga a ilha ao resto do mundo e faz cerca de 30 viagens anuais entre a Cidade do Cabo, na África do Sul, e a ilha de Santa Helena, num percurso que tem a duração média de sete dias.

A introdução de um serviço moderno de telecomunicações, com a instalação de rádio, telefone, telex e fax, teve lugar já há alguns anos, mas só em 1995 é que a televisão chegou ao território.

Santa Helena é considerada um dos mais remotos locais do globo. Mas essa condição está prestes a alterar-se. Os conservadores britânicos anunciaram o início da construção de um aeroporto, depois de o projecto ter sido suspenso pelo Governo trabalhista em 2008 por razões de contenção financeira. Quando as obras estiverem concluídas, a ilha, que recebe um financiamento anual de 20 milhões de libras (24 milhões de euros) de Londres, poderá começar a ganhar alguma auto-suficiência.

Um fácil acesso ao território irá expandir significativamente o sector do turismo. Actualmente, Santa Helena, que em 1502 foi descoberta por portugueses e é habitada por descendentes de colonos britânicos, recebe um total de 950 visitantes anuais. O número que poderá crescer até aos 29 mil quando os aviões começarem a aterrar na ilha.

A decisão de avançar com a construção do aeroporto (a ideia data dos anos 60) foi anunciada pelo secretário de Estado britânico para o Desenvolvimento Internacional, Andrew Mitchell, no dia 22 de Julho. Havia urgência em encontrar uma solução, já que os serviços do Royal Mail Ship serão descontinuados este ano.

De acordo com Mitchell, “se não fosse construído um aeroporto, o Governo teria de gastar cerca de 64 milhões de libras (77 milhões de euros) num novo navio”. Para a construção do aeroporto, o Governo aponta para gastos que rondam os cem milhões de euros (120 milhões de euros).

A decisão está a causar tensões na classe política. A oposição trabalhista acusa o Governo de estar a “reembolsar” Lorde Ashcroft, um dos maiores financiadores do Partido Conservador, com este projecto. “Há muitas ilhas remotas no mundo sem aeroportos, mas nenhuma que fique tão perto dos interesses de Lorde Ashcroft na região sudoeste do Atlântico”, afirmou o deputado do Labour Denis McShane, na altura em que foi feito o anúncio. O Governo já rejeitou as acusações.

[Publicado a 1 de Agosto no Diário de Notícias]

Mitologia dita o tom no festival de Salzburgo

A Praça da Catedral foi o local escolhido para o espectáculo. No palco, os actores davam vida às personagens de Jedermann, uma peça do famoso dramaturgo Hugo von Hofmannsthal. Era dia 22 de Agosto do ano de 1920 e a plateia assistia à primeira edição do Festival de Salzburgo.

O reconhecimento internacional do evento que reúne o melhor da ópera, do teatro e da música clássica não tardou a chegar. Não é difícil perceber porquê. Da lista de fundadores constam nomes como o do compositor Richard Strauss, o do produtor de teatro, Max Reinhardt ou ainda o do maestro Franz Schalk.

De 1934 a 1937, o Salzburger Festpiele (assim se chama em alemão) viveu os seus tempos áureos. Em 1936, recebeu uma actuação da família de cantores Von Trapp, cuja história foi retratada no muito aclamado Música no Coração. Durante a II Guerra Mundial, o evento foi interrompido, mas após a vitória dos Aliados, versos e pautas musicais voltaram a encher as salas de espectáculos de Salzburgo, durante um evento que tem início na última semana de Julho e prolonga-se durante cinco semanas.

“Onde Deus e o homem colidem” é o tema deste ano. A mitologia determinou a escolha de óperas como Electra , de Strauss, Orfeu e Eurídice, de Gluck, ou ainda a criação de Alban Berg, Lulu. Já no teatro, o festival traz a Salzburgo Fedra, uma peça escrita por Jean Racine em 1677 ou Édipo em Colonus, de Sófocles. Mas são quase duzentos os espectáculos que decorrerão até ao fim de Agosto.

No domingo, o festival fez 90 anos e, como manda a tradição, voltou a abrir com a peça de Hofmannsthal, também ele um dos fundadores do mais importante evento cultural da cidade que viu nascer Mozart.

[Publicado a 31 de Julho no Diário de Notícias]